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A Capoeira em Minas Gerais

A Capoeira em Minas Gerais

16 de Junho de 2024

Breve história da capoeira em Minas Gerais

A história da capoeira de Minas Gerais é, muitas vezes, retratada de forma indireta. Vários estudos contemplam os capoeiras mineiros que atuaram em outros estados brasileiros, auxiliando as reflexões sobre a capoeira em Minas Gerais no final do século XIX e início do XX, e também sobre sua trajetória na contemporaneidade. Temos, por exemplo, as histórias e vivências do célebre capoeira mineiro Pedro José Vieira, cujo apelido era Pedro Mineiro, que viveu em Salvador, na Bahia, no início do século XX. Existe também a identificação de capoeiras mineiros na Casa de Detenção do Rio de Janeiro, na década de 1880, e nos Livros de Registros de Presos da Casa de Detenção da Corte e do Distrito Federal, no período de 15 de novembro de 1889 a 13 de maio de 1899.

Foi neste mesmo período ? final do século XIX ? que ocorreu a transferência da capital de Minas Gerais, Ouro Preto, para a recém-criada Belo Horizonte, importante fator para a compreensão das transformações socioculturais observadas no estado. Aliás, a sociedade brasileira passou nesse período, de modo geral, por grandes mudanças: além da Abolição da Escravatura, em 1888, aconteceu a transição do regime Monárquico para o Republicano, fatos que influenciaram diretamente a capoeiragem em todos os estados. Em 1890 foi implantado o Primeiro Código Penal Republicano, que tinha um capítulo específico chamado "Dos vadios e capoeiras" (Capítulo XIII) ? título sugestivo para percebermos como os capoeiras eram tratados neste contexto. Os artigos 402, 403 e 404 desse capítulo são dedicados especificamente aos capoeiras:

Art. 402. Fazer nas ruas e praças publicas exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em correrias, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando tumultos ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal: Pena ? de prisão cellular por dous a seis mezes. Paragrapho unico. E' considerado circumstancia aggravante pertencer o capoeira a alguma banda ou malta. Aos chefes, ou cabeças, se imporá a pena em dobro. Art. 403. No caso de reincidencia, será aplicada ao capoeira, no gráo maximo, a pena do art. 400. Paragrapho unico. Si for estrangeiro, será deportado depois de cumprida a pena.

Art. 404. Si nesses exercicios de capoeiragem perpetrar homicidio, praticar alguma lesão corporal, ultrajar o pudor publico e particular, perturbar a ordem, a tranquilidade ou segurança publica, ou for encontrado com armas, incorrerá cumulativamente nas penas comminadas para taes crimes. (Disponível em: camara.leg.br)

O governo de Minas Gerais, amparado pelo Código Penal de 1890, adotou então uma postura rigorosa na caça aos "vadios", "capoeiras", "mendicantes" e indivíduos ociosos dentro do estado, principalmente na nova capital, criando, assim, as "colônias correcionais agrícolas", para onde essas pessoas eram enviadas e submetidas ao "trabalho obrigatório". Nas primeiras décadas do século XX, no entanto, a capoeira começou a ser vista de outra maneira pelos intelectuais e cronistas da época, que passaram a percebê-la como uma "ginástica nacional" e uma "luta brasileira". Em Belo Horizonte aparece, no ano de 1916, a primeira academia de ginástica da cidade, que oferece, em meio a modalidades de luta e ginástica, aulas de capoeira. Mas é apenas a partir da segunda metade do século XX que a capoeira começa a ganhar grande adesão em Minas Gerais e a se propagar, mais precisamente no fim da década de 1960 e no início de 1970, tendo destaque os municípios de Belo Horizonte, Juiz de Fora e Teófilo Otoni. O caso de Teófilo Otoni, por exemplo, é emblemático. Registra-se que no final da década de 1960, o precursor da capoeira na cidade, Wilson Pires (conhecido como Mestre Maxixe), levou até lá, pela primeira vez, o famoso Mestre Bimba. Mestre Maxixe também registrou o seu encontro com o Mestre Bimba no livro intitulado Memória de um capoeirista

Maxixe, publicado em 2005. Atualmente, Maxixe é referência para os capoeiristas de Teófilo Otoni. Em contato por telefone realizado em maio de 2014, ele disse que não é vinculado a nenhum grupo de capoeira e que estava doente.

Fonte: http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/mapeamento_da_capoeira_de_minas_gerais.pdf, acesso 16/06/2024, 20:02h.

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